Análise da Prática de Estágio I e II
- Sabe... sabe por que essa é
minha árvore preferida?
- Por que?
- Porque ela tá tombada,
e ainda tá crescendo.
- Isso é bem legal.
- Uhum
Escolhi começar minhas reflexões sobre o Estágio I e II com uma cena do filme "Projeto Florida" (2017), acho que ela em poucos segundos diz muito do que foi todo o processo de viver o estágio em um contexto tão específico quanto o que experienciamos. Talvez de uma forma que nunca mais se repita. E assim como a árvore no filme: podemos estar tombados, aparentemente a ponto de cair. Mas seguimos crescendo.
Nesse relato-portifólio faço uma bricolagem da minha experiência acerca dos dois semestres.
As atividades propostas no Estágio abriram a possibilidade de formas outras de se escrever, de expressar conhecimento e ainda de forma validada na academia e foi uma das experiências mais interessantes que tive dentro da universidade. Poucas vezes somos dados a chance de sair desse formato obrigatório e engessado, sinto inclusive que perdi o jeito de me expressar de forma mais livre e fora dessas amarras, já que escrever academicamente foi a forma que fui treinada a escrever desde a escola. E não só a escrita, mas a chance de desenvolver atividades como oficinas e perceber nesse processo o quanto todos nós passamos pelas mesmas inseguranças, medos, potencialidades.
Perceber essas novas possibilidades criadas frente a um momento de ansiedade e dúvidas me ajudou a não cair num pessimismo que muitas vezes me incomoda por parecer que é caminho único, e não é. Fazer educação é aprender um processo que precisa ser adaptado sempre, mesmo vivendo na “normalidade”.
Me identifiquei muito com os desafios compartilhados nos encontros da disciplina e percebo que os professores de Sociologia tem feito uma mobilização muito interessante e bonita, não só para que os estudantes tenham acesso a mais possibilidades de aprendizado e de experienciar uma relação minimamente saudável com a “escola” nesse momento, mas também uma rede de apoio para que os próprios professores se sintam amparados, num momento em que as instituições oficiais falham em dar suporte adequado as escolas, aos professores, aos diretores, funcionários da educação pública no geral. O estágio também foi uma rede de apoio pra mim.
“Pessoas que sabem as soluções já dadas são mendigos permanentes. Pessoas que aprendem a inventar soluções novas são aquelas que abrem portas até então fechadas e descobrem novas trilhas. A questão não é saber uma solução já dada, mas ser capaz de aprender maneiras novas de sobreviver.” (Rubem Alves)
Antes do processo do estágio tive uma sensação forte de frustração, medo e até raiva. Pensava em trancar o primeiro semestre remoto, com esperanças delirantes que a pandemia acabaria a tempo de não atrasar tanto minha graduação. Pensava que viver esse processo tão importante da licenciatura remotamente me faria perder demais, não me formaria como a professora que eu esperava me tornar, me tomaria a experiência de viver o chão da sala. E mesmo que os motivos pra que isso tenha acontecido seja uma pandemia que nenhum de nós gostaria que tivesse acontecido e todos torcemos pra que acabe o mais rápido possível, o estágio acabou sendo a surpresa mais positiva do ensino remoto. Os relatos que eu já tinha ouvido sobre a disciplina sempre foram muito positivos, então isso acabou me dando o empurrão que faltava pra pular de cabeça nessa trajetória.
Poucas vezes no meu percurso de Ciências Sociais tive uma experiência de tanta troca e possibilidades. Acredito que o contexto possibilitou isso, estávamos (e estamos) todos descobrindo a forma de viver a universidade de fora dela. Mas a turma, a professora, os professores orientadores, nossos grupos, encontros, sinto que tudo se encaixou. E acabou sendo um grande processo de desenhar e desvendar uma nova forma de se pensar a formação de professores, o ensino de Sociologia, de explorar possibilidades e de trazer a sensibilidade como uma forma de potência.
“Para educar para a liberdade, portanto, temos que desafiar e mudar o modo como todos pensam sobre os processo pedagógicos” (bell hooks)